Festas juninas

As festas juninas surgiram na Idade Média para homenagear três santos populares lembrados durante o mês de junho: São João (dia 24), Santo Antônio (dia 13) e São Pedro (dia 29). São importantes no Norte da Europa, em Portugal, Espanha, França, Ucrânia, Polônia, partes do Reino Unido, Austrália e outros países de tradição cristã.

Trazidas ao Brasil pelos colonizadores portugueses, tornaram-se parte do folclore nacional, especialmente no Nordeste, onde surgiram os costumes da roupa caipira e das comidas feitas com milho. As festas também são muito populares no interior de São Paulo, com pequenas adaptações culturais, como a animação por músicos sertanejos no lugar do forró nordestino.

As festas juninas acontecem em diversos estados brasileiros, principalmente no Nordeste e no Sudeste do país, durante todo o mês de junho. As celebrações homenageiam três santos católicos : Santo Antônio (festejado no dia 13), São João (no dia 24) e São Pedro (no dia 29). Cada região celebra os santos a sua maneira, adaptando as tradições juninas aos costumes locais e misturando elementos religiosos, populares e folclóricos.

O Dia de São João é comemorado em 24 de junho, data de nascimento de São João Batista.

João Batista era um profeta, primo de Jesus Cristo. Segundo a tradição cristã, João foi enviado por Deus para preparar o mundo para a chegada de Cristo. Quando sua mãe Isabel engravidou, ela e o marido Zacarias já haviam passado muito da idade de ter filhos.

Por causa do voto que fizera na adolescência de passar a vida a serviço de Deus, João não podia cortar o cabelo nem consumir bebida alcoólica. Vivia em uma gruta no deserto, vestia-se com peles de animais e se alimentava de plantas e frutas – os “gafanhotos” de que a Bíblia fala na verdade são árvores que produzem um fruto adocicado, também chamadas de figueiras-do Egito.

Ficou conhecido por dedicar sua vida a pregar a vinda do Messias, que estabeleceria na terra o Reino dos Céus, e batizar os judeus como forma de penitência e preparação. Ele dizia que batizava com água, mas logo viria Aquele que iria batizar com fogo e com o Espírito Santo.

Antes de iniciar sua vida pública, Jesus foi ao rio Jordão para ser batizado por João Batista. João disse que não era digno de batizar o Filho de Deus, mas Jesus o convenceu a fazê-lo.

Foi preso no ano 26, por ordem do Rei Herodes Antipas, acusado de liderar uma revolta popular, e decapitado a pedido da sobrinha do rei, Salomé. O motivo: João acusara a mãe da moça de adultério.

Realizados nas paróquias, nas casas, nas ruas da cidade ou em sítios, os arraiais possuem alguns elementos essenciais que os identificam : a fogueira, o mastro, a quadrilha, as bandeirinhas e os derivados do milho. A alegria, a euforia, a dança e a música também são elementos que completam o quadro de uma verdadeira festa junina. O período é tão importante que, em alguns estados brasileiros, como Alagoas e Pernambuco, o dia de São João é considerado feriado. Ainda em Alagoas e no Rio Grande do Norte, o dia de São Pedro também é considerado feriado estadual.

Origem

Embora seja atualmente uma comemoração ligada às tradições católicas, as festas juninas têm suas raízes nas celebrações pagãs que aconteciam durante o solstício de verão (dia mais longo do ano, 21 ou 22 de junho), no hemisfério norte. Nesse período, acontece no hemisfério sul o solstício de inverno (noite mais longa do ano). Na Antiguidade, diversos povos, como celtas e egípcios, aproveitavam o solstício de verão para organizar rituais em que pediam fartura nas colheitas. O costume foi reproduzido na Europa, até por volta do século 10. Como a igreja não conseguia combatê-lo, decidiu cristianizá-lo, instituindo dias de homenagem aos três santos no mês1.

Os festejos foram, então, trazidos para o novo mundo pela igreja católica. Assim sendo, as festas juninas são herança portuguesa no Brasil. Curiosamente, os índios brasileiros também festejavam sua agricultura em junho, com cantos, danças e comidas, antes da chegada dos portugueses. Com a chegada dos europeus, os costumes das duas culturas se fundiram, mesclando os santos católicos com pratos feitos à base de alimentos locais. A inclusão de elementos da vida caipira às festas reflete a evolução da sociedade brasileira, que até meados do século 20, tinha 70% de sua população inserida no campo.

As maiores festas

Especialmente no nordeste brasileiro, Santo Antônio, São Pedro e São João são reverenciados e pode-se dizer que a importância dessas festas ultrapassa a do Natal, principal festa cristã. Elas são, historicamente, o evento festivo mais importante daquela região, tanto culturalmente quanto politicamente4. As cidades de Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, realizam as maiores festas de São João do Brasil. A festa de Paritins, no Amazonas, também merece destaque. Os festejos estruturados, animados e coloridos atraem a cada ano uma multidão de curiosos vindos de cidades vizinhas, de outros estados e atualmente até mesmo de outros países. As festas regionais deixaram de ser apenas um evento local e transformaram-se em verdadeiros atrativos turísticos, movimentando não somente o fluxo financeiro da região, mas também a imagem do Brasil no exterior.

Caruaru

Em Caruaru, foi criada a Vila do Forró, no intuito de acolher os visitantes e reproduzir no centro da cidade todo o clima da roça típica do sertão. A Vila, que recria a arquitetura das cidades do interior, possui réplicas de casas simples, restaurantes, igrejas e outros elementos presentes no cotidiano regional. Além da cidade cenográfica, foi criado também o « Trem do Forró », uma das maiores atrações da festa pernambucana, que traz os visitantes vindos de Recife. Entre outras curiosidades de sua festa, Caruaru produz nessa época o « Maior Cuscuz do Mundo », de acordo com o Guiness Book. A cuscuzeira utilizada na preparação tem capacidade para 700 quilos de massa, e mede 3,3 metros de altura e 1,5 metros de diâmetro5.

Campina Grande

Campina Grande reivindica o título de « maior São João do mundo », e realiza a festa há mais de 30 anos. Durante 30 dias, a cidade é decorada com badeirolas para acolher os visitantes ao som do forró pé-de-serra. No Parque do Povo, onde os festejos são realizados, também foi criada uma cidade cenográfica, que reproduz os prédios históricos da cidade. O local abriga mais de 200 barracas e quiosques, que oferecem pratos típicos da região, como a buchada de bode, cuscuz com carne guisada, pamonha e pé-de-moleque, tapioca, entre outros. Já na pirâmide do povo, acontecem as apresentações de quadrilhas juninas, além de shows com artistas do forró e do universo sertanejo6.

Sudeste

No estado de São Paulo mantém-se a tradição de realizar quermesses e quadrilhas em torno das fogueiras. As festas acontecem nas paróquias, nas ruas, nas escolas e nas empresas. Em diversas cidades do interior, a programação é vasta e pode ir até o mês de julho, com as festas julhinas. Geralmente ao som do forró e do sertanejo, as festas são marcadas pelas fantasias caipiras, pelas bandeirolas e pelas comidas típicas, como a pamonha, cural, canjica, cuscuz, bomocado, cocada, churrasquinho, cachorro quente, entre outros7. Em algumas cidades do Vale do Paraíba, é possível encontrar o famoso « bolinho capira » . A iguaria, que tem origem na cultura dos tropeiros da região, é feita com uma massa de farinha de milho, recheada com carne temperada8.

Música

Geralmente, o forró e a música sertaneja embalam as festas juninas, ao som da zabumba, do triângulo e da sanfona. « São João, São João, acende a fogueira do meu coração ». Esse trecho de « Sonho de Papel » é um dos mais conhecidos das celebrações do mês de junho. O verso foi composto por Alberto Ribeiro, nos anos 30, e já foi cantado por diversos intérpretes brasileiros, como Carmem Miranda.

Comida

A lista das especialidades juninas é longa em pode variar de acordo com as regiões. Existem, porém, alguns quitutes tradicionais, como os seguintes : quentão, vinho quente, bolinho caipira, cuscuz, bolo de milho, pamonha, canjica, milho cozido, pipoca, pé de moleque, pinhão, curau, batata doce, bolo de fubá, maria-mole, churros, churrasquinho, pastel.

Brincadeiras Juninas

Fogueira – as antigas celebrações do solstício de verão do hemisfério norte, que pediam fartura para as colheitas, foram integradas pelo cristianismo. A fogueira de São João, santo festejado em 24 de junho (suposto dia de seu nascimento), é um exemplo de como o ritual pagão foi reinterpretado pela cultura cristã. Conta-se que Isabel, mãe de João, usou o recurso da fogueira para avisar Maria, mãe de Jesus, que seu filho havia nascido.

Quadrilha – tem origem nos bailes de salão da cultura francesa. Palavras como balancê, anarriê, anavã têm origem na língua francesa : balancer (balançar), en arrière (para trás), en avant (para frente). A quadrilha é a encenação do casamento do caipira com uma linda moça, no qual estão presentes o padre, os pais dos noivos, o juiz, o delegado e os convidados. Colorida e alegre, a quadrilha é elemento obrigatório de todo arraial.

Correio elegante – « serviço » de entrega de mensagens anônimas ou não durante a festa. A pessoa escreve um recado e pede para que o « carteiro » a entregue ao destinatário.

Prisão – um local cercado é reservado para a cadeia. No decorrer da festa, é possível pedir para que o responsável pela cadeia « prenda » uma pessoa específica, em geral, um amigo ou uma amiga. Para ser liberada, a pessoa deve pagar uma « fiança », em geral, demonstrando alguma habilidade como cantar, dançar ou contar uma piada.

Pau de sebo – um mastro de madeira encerado é disposto no meio de um pátio. No topo, há uma recompensa. Aquele que conseguir subir o pau de sebo até o final, ganha a recompensa.

Balão – há alguns anos, costumava-se soltar balões durante as festas juninas. Atualmente, devido ao perigo de o balão cair em áreas residenciais ou florestas, com alto risco de queimadas e incêndios, a brincadeira é proibida por lei.

Simpatias – com objetivos diversos, como trazer proteção, dinheiro, saúde, felicidade, e principalmente arrumar um bom « casório », as simpatias fazem parte dos costumos das festas juninas.