Corpus Christi: o que se comemora nesse dia e por que é feriado?
Entenda por que, mesmo não sendo um feriado nacional, a solenidade católica é adotada como dia de descanso em quase todo o país.
Afinal de contas, o que é comemorado nesse feriado, que às vezes mal sabemos soletrar?
Oficialmente, o dia de Corpus Christi – assim como o Carnaval e a Sexta-feira Santa – não é um feriado nacional. A legislação brasileira delega aos estados e municípios a instituição de outros feriados – não mais que quatro –, além daqueles decretados na lei nº 10.607/2002. Contudo, tradicionalmente, o dia de Corpus Christi é adotado como feriado, ou no mínimo ponto facultativo, por quase todos os municípios do país.
História
A expressão latina Corpus Christi significa “Corpo de Cristo”. É uma comemoração católica, cujo nome litúrgico completo é Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Mesmo sendo corriqueira a abreviação em latim, não é de uso universal. Na Itália, por exemplo, o mais comum é se falar em Corpus Domini, “o Corpo do Senhor”.
A solenidade tem a sua origem no século XIII, a partir das inspirações de uma monja agostiniana conhecida como Santa Juliana de Cornillon, que viveu em Liége, na Bélgica. Aos 16 anos, ela teve uma visão na qual se via a Lua, toda brilhante, atravessada por uma faixa escura. Na oração, compreendeu que a Lua representava a vida da Igreja na terra e a faixa sem luz significava a ausência de uma festa litúrgica dedicada à Eucaristia.
Juliana manteve em segredo a sua visão por cerca de vinte anos. Depois de ter assumido a liderança do convento em que vivia, confidenciou a visão a outras duas religiosas e a um padre, ao qual pediram que sondassem entre os clérigos e os teólogos o que pensavam da proposta.
A resposta foi positiva e o bispo de Liége – cidade já conhecida por seu fervor pela Eucaristia – instituiu a festa na sua diocese, sendo em seguida imitado por outros bispos. Foi o papa Urbano IV, que havia conhecido Juliana antes de se tornar pontífice, que estendeu a comemoração a toda a Igreja, com a bula Transiturus de hoc mundo, em 1264, seis anos depois da morte de Juliana. A data fixada – e estabelecida como dia de preceito, ou seja, de obrigatoriedade de ir à missa – foi a segunda quinta-feira após a solenidade de Pentecostes, que ocorre, por sua vez, no sétimo domingo a partir da Páscoa.
Festejar a Eucaristia
A data veio ao encontro da ausência de uma comemoração no calendário litúrgico da Igreja Católica dedicada especialmente à exaltação da Eucaristia, o pão e o vinho que, segundo a fé católica, ao serem consagrados na missa com a repetição do gesto e das palavras de Jesus na última ceia, o tornam presente de modo “verdadeiro, real e substancial: com o seu Corpo e o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 282).
“Ele tomou o pão, deu graças e o deu a seus discípulos… Ele tomou o cálice, deu graças novamente e o deu a seus discípulos dizendo: tomai e bebei, este é o meu sangue. O sangue da nova e eterna aliança que é derramado por vós para o perdão dos pecados. Fazei isso em memória de mim”.
Recorrente como as palavras de Cristo na Última Ceia reproduzidas em todo ritual da Eucaristia, o vinho é um dos elementos sagrados que estará uma vez mais em evidência durante o ritual da missa nas igrejas católicas de Sorocaba e do mundo todo, nesta quinta-feira, 31/5, na qual se comemora o Corpus Christi, expressão do latim que significa “Corpo de Cristo”.
Como se sabe, o pão e o vinho, criações do homem que alimentam o corpo, são representantes simbólicos do corpo e do sangue de Jesus, que na tradição cristã são a “comida” da alma que alimenta a fé e eleva o espírito. Considerado um dos eventos mais importantes do calendário da Igreja, a data celebra o mistério do sacramento da Eucaristia.
E as comemorações com o Vinho Eucarístico como funciona ?
Em geral, a curiosidade recai sobre a procedência, como ele é feito, quais uvas são utilizadas no seu caldo, se só podem ser empregadas castas tintas, enfim, as principais diferenças que há entre o vinho litúrgico e aquele que tomamos normalmente, o “profano”, digamos.
Bem, vamos à taça, digo, ao cálice, “desarrolhar” de vez este tema. O Direito Canônico define regras severas sobre o vinho de altar. De acordo com a norma 924, ele precisa ser feito com uvas amadurecidas completamente, e apresentar graduação alcoólica que garanta a sua boa conservação. “Vinum debet esse naturale da gemine vitis et non corruptum”, diz o texto.
Os padres, por sua vez, são proibidos de consumir vinho alterado (ou seja, elaborado com quaisquer outras frutas ou matéria-prima que não seja a uva) ou que contenha conservantes. Isso inclui a utilização de uma única cepa (sem a adição de outros cortes) e teor alcoólico em torno de 12% e 18%.
No rótulo, deve constar obrigatoriamente a autorização eclesiástica em italiano (“Prodotto secondo le regole di vinificazione dei vini ad uso sacramentale, que, em bom português, quer dizer “Produzido segundo as regras de vinificacão dos vinhos destinados a uso sacramental”) e o selo da Curia cunhado em cera-laca sobre a cápsula da rolha.
Corpus Christi e o estado laico
A noção de feriado, isto é, de um dia comemorativo em que não se trabalha, vem do âmbito religioso. Já entre os romanos eram dias de festa que, cumprindo a função de demarcar a passagem do tempo, se referiam a divindades. No cristianismo, têm uma função clara: dispensar o fiel da obrigação do trabalho para que possa participar da missa em um dia importante do calendário da Igreja. Por isso, a existência de feriados religiosos não fere a laicidade do Estado, que apenas garante com isso o direito do fiel participar da vida da sua religião.
Foi só com a Revolução Francesa, no final do século XVIII, que o modelo foi adotado fora da esfera religiosa: o 14 de julho, dia da Queda da Bastilha, se tornou o primeiro feriado de natureza civil. Lentamente, foram se estabelecendo outras datas, como o dia 1º de maio como Dia do Trabalhador, adotado em diversos países na segunda metade do século XIX.
Na própria Itália, Corpus Christi não é feriado e a comemoração é transferida para o domingo seguinte. Além disso, lá o dia de Todos os Santos é feriado, mas Finados não é.
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